terça-feira, 16 de agosto de 2011

Lombardos

Os principados lombardos no século X.

O Estado independente em Salerno inspirou os gastaldos de Cápua a procurar a independência e, pelo fim do século, já se designavam "príncipes", formando um terceiro Estado lombardo. Cápua e Benevento posteriormente foram unidos por Atenulfo, em 900, que declarou-os em "união perpétua" - fato que duraria até 982, com a morte de Pandulfo Cabeça de Ferro. Com todos os territórios lombardos do sul sob seu controle, com a exceção de Salerno, Atenulfo sentiu-se apto a utilizar o título de princeps gentis Langobardorum ("príncipe do povo lombardo"), que Aragiso II tinha começado a usar em 774. O principado foi governado pelos sucessores de Atenulfo por boa parte daquele século. Enquanto isso, o príncipe Gisulfo de Salerno também havia começado a utilizar o título Langobardorum gentis princeps, por volta de meados do século. O ideal de um principado lombardo unido, no entanto, só foi realizado em dezembro de 977, quando Gisulfo morreu e seus domínios foram herdados por Pandolfo Cabeça de Ferro, que teve controle temporário sobre toda a Itália ao sul de Roma, e formou uma aliança entre os lombardos e o Sacro Império Romano. Seus territórios foram divididos depois de sua morte.

Landolfo, o Ruivo, de Benevento e Cápua, tentou conquistar o principado de Salerno com a ajuda de João III de Nápoles, mas Gisulfo, com a ajuda de Mastalo de Amalfi, conseguiu derrotá-lo. Os soberanos de Benevento e Cápua tentaram por diversas vezes invadir a Apúlia bizantina durante o período, porém a presença austera de Basílio II conseguiu manter domínio bizantino na região.
A principal fonte para a história dos principados lombardos neste período é o Chronicon Salernitanum, escrito no fim do século em Salerno.

Lingua Lombarda.

A língua lombarda é uma língua germânicaextinta cujo uso começou a declinar no século VII, mas que ainda estava em uso até por volta do ano 1000. Foi preservada apenas de maneira fragmentária, com a sua principal evidência consistindo de palavras individuais citados em textos latinos. Na ausência de textos completos no idioma, nada se pode concluir sobre a sua morfologia e sintaxe. A classificação genética do idioma tem como base apenas a sua fonologia. Como existem evidências de o lombardo tenha participado - e até mesmo seja a sua evidência mais antiga - da mudança consonantal do alto alemão, costuma ser classificado como um dialeto germânico do Elba ou alemão superior.
Fragmentos do lombardo foram preservadores em inscrições rúnicas. Entre as fontes primárias do idioma estão inscrições curtas no antigo futhark, entre elas a "cápsula de bronze de Schretzheim" (c. 600). Diversos textos latinos incluem nomes lombardos, e textos jurídicos lombardos contêm termos retirados do vocabulário legal do vernáculo. Em 2005, alegou-se que a inscrição da espada de Pernik poderia estar em lombardo.
A sociedade lombarda estava divida em classes comparáveis àquelas encontradas nos outros Estados germânicos que sucederam Roma: a Gália franca e a Hispânia visigótica. Basicamente existia uma classe nobre, uma classe de homens livres abaixo da nobreza, uma classe de indivíduos que não eram livres mas que tampouco eram escravos (servos), e finalmente os escravos. A aristocracia em si era mais pobre, mais urbanizada, e possuía menos terra do que em outros locais. além dos mais ricos e poderoso entre os duques e do próprio rei, os nobres lombardos costumavam viver em cidades (ao contrário de seus equivalentes francos), e tinham pouco mais do que o dobro de terra, em média, do que a classe dos comerciantes (uma diferença muito grande dos aristocratas provincianos francos que detinham enormes extensões de terras, centenas de vezes maiores do que a dos homens que lhes sucediam nas escalas de poder). A aristocracia do século VIII dependia muito do rei para fontes de renda, especialmente no que dizia respeito às obrigações judiciais; diversos nobres lombardos são referidos em documentos contemporâneos como iudices (juízes), mesmo quando seus cargos já tinham importantes funções militares e legislativas.
Os homens livres no reino lombardo eram muito mais numerosos do que em terras francas, especialmente no século VIII, quando parecem praticamente desaparecer da evidência documental destes últimos. Pequenos proprietários de terra, agricultores e arrendatários de terra eram os tipos mais numerosos de pessoas a serem listadas nos documentos existentes do reino lombardo; possuíam mais da metade das terras da Itália lombarda. Estes homens livres eram exercitales e viri devoti, isto é, "soldados" e "homens devotos"; formavam o grosso dos homens conscritos para o exército lombardo, por vezes chamados para servir ainda que contra sua vontade. A pequena classe de proprietários de terra, no entanto, não tinha a influência política necessária com o rei (e os duques) para controlar a política e a legislação do reino. A aristocracia tinha, no geral, mais poder político do que seus equivalentes na Gália e Hispânia do período, embora detivesse menor poder econômico.
A urbanização da Itália lombarda foi caracterizada pelas città ad isole ("cidades como ilhas"). A arqueologia indica que as grandes cidades da Itália lombarda - Pávia, Lucca, Siena, Arezzo, Milão - foram formadas a partir de diminutas ilhas de urbanização dentro das antigas muralhas das cidades romanas. As cidades do Império Romano haviam sido destruídas parcialmente na série de guerras dos séculos V e VI; diversos de seus setores ficaram em ruínas, e os antigos monumentos se tornaram campos de relva utilizados como pasto para animais (o Fórum Romano, por exemplo, se tornou o Campo Vaccinio: o campo das vacas). As partes destas cidades que permaneceram intactas eram pequenas, modestas e continham uma catedral ou igreja principal (frequentemente decorada de maneira suntuosa) e alguns poucos edifícios públicos e casas de aristocratas. Poucos edifícios importantes eram feitos de pedra, e a maior parte era de madeira. As regiões habitadas de cada cidade eram separadas das outras por campos e pastos, mesmo dentro das muralhas da cidade.

Arte e arquitetura

Durante sua fase nômade, os lombardos criaram pouco em termos de arte; apenas aquilo que pudesse ser levado com eles, apenas objetos como armas e joias. Embora relativamente pouco deste material tenha sobrevivido, ele parece semelhante aos seus equivalentes feitos por outras tribos germânicas do norte e do centro da Europa no mesmo período.
As primeiras grandes modificações feitas ao estilo germânico dos lombardos se deu na Panônia, e especialmente na Itália, sob a influência dos estilos arquitetônicos locais, cristãos e bizantinos. A conversão do nomadismo e paganismo para o sedentarismo e o cristianismo também abriu novas áreas de expressão artística, como igrejas e afrescos.

Sociedade do período das migrações

Os reis lombardos remontam a pelo menos por volta de 380 d.C., o início do período conhecido como o das grandes migrações. O conceito de reis surgiu entre os povos germânicos uma vez que a necessidade de um único comando militar mostrou-se necessária. Ludwig Schmidt acreditava que as tribos germânicas fossem divididas de acordo com cantões, e que a primeira forma de governo teria sido uma assembleia geral que escolhia os chefes dos cantões e os líderes de guerra de cada um deles (em épocas de guerra); todos estes cargos eram selecionados provavelmente a partir de uma casta de nobres. Como resultado das guerras surgidas destas migrações, o poder real se desenvolveu de tal maneira que o rei se tornou o representante do povo; porém a influência do povo sobre o governo não desapareceu totalmente.Paulo, o Diácono dá um relato da estrutura tribal lombarda durante a migração:
. . . para que pudessem aumentar os números de seus guerreiros, concedem a liberdade a muitos daqueles que resgatam do jugo da escravidão, e, para que a liberdade deles possa ser tida como definitiva, a confirmavam de sua maneira costumeira, com uma flecha e a pronúncia de certas palavras de seu país, que confirmavam o fato.
A emancipação completa, no entanto, parece ter sido concedida apenas a francos e lombardos.

Invasão e conquista da península Itálica

Em 560, um novo e enérgico rei surgiu: Alboíno, que derrotou seus vizinhos, os gépidas, tornando-lhes seus vassalos, e casou-se, em 566, com a filha de seu rei Cunimundo, Rosamunda. Na primavera de 568, Alboíno liderou os lombardos, juntamente com outras tribos germânicas (bávaros, gépidas, saxões) e búlgaras, atravessando os Alpes Julianos com uma população de 400 a 500.000 pessoas, e invadindo o norte da península Itálica, após serem expulsos da Panônia pelos ávaros. A primeira cidade importante a ser tomada foi Forum Iulii (Cividale del Friuli), no nordeste da Itália, em 569. Lá, Alboíno fundou o primeiro ducado lombardo, que ele confiou a seu sobrinho, Gisulfo. Logo Vicenza, Verona e Bréscia caíram nas mãos germânicas. No verão de 569, os lombardos conquistaram o principal centro romano do norte da Itália, Milão. A região ainda estava se recuperando das terríveis Guerras Góticas, e o pequeno exército bizantino estacionado ali para sua defesa pouco pôde fazer. O exarca enviado à Itália pelo imperador bizantino Justino II, Longino, conseguiu defender apenas as cidades costeiras, que podiam receber auxílio da poderosa marinha bizantina. Pavia caiu após um cerco de três dias, em 572, tornando-se a primeira capital do novo reino lombardo da Itália. Nos anos seguintes, os lombardos foram rumo ao sul, conquistaram a Toscana e fundaram dois outros ducados, Spoleto e Benevento, confiados a Zoto, que logo se tornaram independentes e duraram mais que o reino do norte, sobrevivendo até o século XII. Os bizantinos conseguiram manter o controle da região de Ravena a Roma, ligadas por um corredor estreito que passava por Perugia.
Quando entraram na Itália, alguns lombardos ainda mantinham sua forma nativa de paganismo, enquanto outros eram cristãos arianos. Isto lhes colocou desde o início em más relações com a Igreja Católica. Gradualmente adotaram os títulos, nomes e tradições romanas, e converteram-se, parcialmente, à Igreja Ortodoxa, no século VII - não sem antes passar por uma longa série de conflitos étnicos e religiosos.
Todo o território lombardo estava dividido em 36 ducados, cujos líderes tinham sede nas principais cidades. O rei lhes governava, e administrava todo o território através de emissários chamados gastaldi. Esta subdivisão, no entanto, aliada à indocilidade independentista dos ducados, não conferiu unidade ao reino, tornando-o fraco se comparado aos bizantinos, especialmente depois que estes puderam se recuperar da invasão inicial. Esta fraqueza se tornou ainda mais evidente quando os lombardos tiveram de confrontar o poder crescente dos francos. Como resposta a esse problema, os reis gradualmente tentaram centralizar o poder. Acabaram, no entanto, perdendo definitivamente o controle sobre os ducados de Spoleto e Benevento no processo.

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